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A gente precisa MESMO de animação 3D nos nossos animes?

Quando Osamu Tezuka criou a indústria de animação japonesa usando seis folhas de acetato, guache escolar e alguns frames do Astro Boy repetidos à exaustão, ele não fazia ideia do mercado que estava criando. Hoje em dia os animes são grandes potências mundiais que ficaram grandes demais para o Japão, com investimento pesado de empresas como Netflix, mas o modo de se fazer anime continua… basicamente o mesmo. Se os desenhos americanos já flertam com animação computadorizada há algumas décadas, os japoneses ainda não se acertaram com o formato.

Na última semana, a indústria nostalgista ocidental e oriental apresentaram novos trailers de remakes tridimensionais feitos para impactar o jovem moderno que sente saudade de tempos que não voltam mais. A Disney exibiu o primeiro trailer detalhado de O Rei Leão, enquanto no Japão rolou a divulgação de um robusto trailer de Mewtwo Strikes Back… EVOLUTIOOOON. Os dois dispensam apresentações: os dois são filmes clássicos feitos nos anos 90 que ganharam uma repaginada visual usando novas tecnologias. E a repercussão dos dois é bem parecida: o pessoal tá pirando.

Os dois projetos se diferem mesmo é no quesito técnico. Para O Rei Leão, a Disney usou toda a sua fonte de dinheiro infinito para criar animais fotorrealistas, enquanto a produtora de Pokémon gastou o equivalente a um comercial do Dolly Guaraná uma grana para concretizar o sonho de trazer de volta o primeiro filme da franquia com visual tridimensional. No entanto, os dois filmes voltam a se assemelhar em outro fator: as duas produções parecem sem vida. O novo Rei Leão deixa de lado os carismáticos animais com feições humanas para parecer um documentário da NatGeo, enquanto Pokémon se assemelha a um episódio de Frango Robô que foi descoberto nas gavetas do Cartoon Network.

A animação tridimensional já é usada nas animações americanas há muito tempo, vide o sucesso de Reboot na década de 90. De lá pra cá, vários outros desenhos e séries foram aperfeiçoando a técnica para chegar num ponto em que parece agradável aos olhos. Seguindo um caminho oposto, o Japão nunca passou por esse projeto sério de criar uma vertente de animes feitos em computação gráfica (talvez porque o próprio público cricri tenha implicado com isso por muitos anos) e tem apostado nisso de forma adequada apenas recentemente.

De um tempo para cá aumentou o número de animes feitos em computação gráfica. Knights of SidoniaBerserkSouten no Ken e outros foram séries que tentaram oferecer algo diferente (por motivos orçamentários ou estéticos), mas acabaram desagradando o público no processo. Personagens travados e animações que parecem saídas de um FMV da época de PS2 não ajudam muito as pessoas a comprarem a ideia do 3D.

Vislumbre a QUALIDADE dessas movimentações que até viraram memes e combustível para protestos anti 3D:

O ponto é que o Japão PRECISA apostar mais em animação 3D. Por mais que o público tenha esse tesão pelo 2D, não precisa ser nenhum gênio para reparar que a qualidade dos animes está bem baixa ultimamente. Tirando um ou outro MadHouse da vida, a maioria dos animes da temporada pecam por animações de baixíssima qualidade, nível Toei nos episódios finais da Saga de Hades. A animação 3D poderia ser uma forma de burlar os problemas e oferecer, talvez, uma produção mais consistente.

“Mas Mara, sua gorda que odeia tradição, quer dizer então que você quer os animes parecendo uns bonecões de plástico se mexendo em vez de animação 2D linda?

Na verdade não. Estamos num ponto do avanço tecnológico que podemos ter animações 3D que fingem ser produções 2D bem feitas. No mercado americano, por exemplo, tivemos o excelente Homem Aranha no Aranhaverso que usa uma técnica que simula animação tradicional, mas usando modelos em 3D.

Algumas produções em estilo anime já usaram recursos parecidos que eu achei bem satisfatórios. As animações do jogo Tokyo Mirage Sessions de Wii U são todas usando modelos tridimensionais e, mesmo em movimento, você se pega pensando “nossa, parece um anime tradicional”. Fiz um GIFzinho para mostrar o trabalho deles:

Claro, isso foi feito para um jogo, que teve muito mais tempo de produção que um anime semanal, mas não posso deixar de citar um outro exemplo que curto muitoHi Score Girl. Tirando os cenários feitos em 2D, todos os personagens são modelos tridimensionais emulando uma animação tradicional. Por mais que tenha momentos de estranhamento, boa parte da produção “engana” mesmo os olhos mais bem treinados.

Recentemente perguntei no Twitter exemplos bons de animes em 3D e, surpreendendo zero pessoas, uns 95% dos que responderam Houseki no Kuni. A animação realmente surpreende:

Além desse exemplo, nosso youtuber Sahgo (especialista em animações que ninguém mais comenta) citou como exemplo o infantil The Snack World, que também tenta uma animação menos “fluída” para simular as limitações da animação 2D:

Embora o público otaku tenha uma rejeição natural ao 3D (assim como tem com outros temas mais “modernos” como representatividade feminina), esse é um caso de caminho sem volta. A animação computadorizada tende a aumentar no Japão e, com o uso e prática, ficará mais agradável aos olhos. Durante esse trajeto, infelizmente, teremos de lidar com algumas animações que podem até ter o nome EVOLUTIOOOON no nome, mas que são feias como bater na mãe.

Muitas séries vão poder se aproveitar desse modelo de animação, sem que necessariamente a animação 2D morra. No fim, dá pra todo mundo coexistir sem qualquer problema ao mercado.

 

Da Redação
Fonte: Mais de Oito Mil

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