Audace: O Selo Adulto da Sergio Bonelli Editore
Se a DC Comics teve a Vertigo e a Marvel teve a Marvel MAX, a Sergio Bonelli Editore, casa dos fumetti mais queridos do mundo, tem a Audace. Esse é o selo de quadrinhos adultos da editora de Tex e companhia, que oferece histórias mas maduras, com um conteúdo com temáticas que são mais perversas e eróticas do que a editora costuma oferecer geralmente. A novidade para nós brasileiros é que este selo está aportando no Brasil, através da Panini Comics, nos títulos Deadwood Dick e Mister No: Revolução. Vamos falar mais sobre esse selo e sobre o que esperar de seus títulos neste post.
O nome Audace vem do primeiro nome da primeira editora que publicou as histórias de Sergio Bonelli, o cowboy americano Tex. Desde pequeno Sergio frequentava a editora dirigida por sua mãe, Tea Bonelli, a Redazione Audace. Em 1957, com seus estudos concluídos os, Sergio assumiu a direção da empresa, que agora tinha o nome de Edizioni Araldo. Em 1957, com seus estudos concluídos os, Sergio assumiu a direção da empresa, que agora tinha o nome de Edizioni Araldo. A origem do nome audace vem do gibi mix L’ Audace, que era um periódico que trazia histórias de personagens americanos até o início da Segunda Guerra Mundial, quando o ditador Benito Mussolini proibiu esse tipo de publicação estrangeira na Itália. L’ Audace foi criado pela Società Anonima Editrice Vecchi e continuado pela Mondadori até G. L. Bonelli assumir. O sucesso do periódico levou à fundação da “Redazione Audace” – hoje conhecida como “Sergio Bonelli Editore”.
Já o selo Audace, voltado para o público adulto da Sergio Bonelli Editore, foi anunciado por Michele Masiero, seu editor-chefe, em 2017 na Lucca Comics & Games para que sua publicação começasse a valer nas bancas italianas em 2018. Segundo ele: “O Audace é um guarda-chuva sob o qual daremos vida a projetos com uma narrativa mais “adulta” e caracterização gráfica, uma nova maneira de propor a bonelicidade tradicional”. Um dos primeiros títulos anunciados para o selo foi Loose Dogs, que acompanha um grupo de amigos que eram estudantes durante a revolução de 1968 na europa e os acompanha até 1973 na revolução dos estudantes contra o General Pinochet no Chile, durante o golpe militar daquele país. Também foi anunciado Senz’anima, uma história adulta que se passa no universo de capa e espada do fumetto Dragonero. Ainda estão na lista uma nova aventura do personagem “O Desconhecido”, de Magnus, “Darwin”, “10 de outubro” e “K-11”, que serão revelados ao decorrer do ano.
Quando a Panini Comics anunciou os álbuns referentes a este selo, sem, no caso passar essa informação para seus leitores, a primeira coisa que me passou pela cabeça foi que os direitos dos personagens estavam migrando. Mas aparentemente as negociações dos títulos da Bonelli acontece em separado, ou por selo, ou por linha, o que explicaria porque tantas editora no Brasil publicam seu material. A verdade é que depois que as editoras pequenas como a Lorentz e a Editora 85 começaram a publicar fumetti e conquistaram o público com sua simplicidade e qualidade, as grandes editoras que já publicaram os materiais italianos esticaram o olho para a Bonelli. Também vemos outro fenômeno de outras editoras trazerem materiais menos conhecido da Bonelli Editore para o Brasil através de campanhas do Catarse.
Para o Brasil, a Panini Comics não chegou a anunciar os títulos da Audace que vai trazer. Os leitores, para variar, foram pegos de surpresa e, como sempre, não estavam preparados para esse tipo de lançamento que, embora bem-vindo, precisa de um planejamento financeiro para ser adquirido. Afinal, são álbuns que compilam pelo menos dois dos títulos originais e são publicados com acabamento de luxo, formato gigante e capa dura. Os títulos programados para agosto ( que chegaram nas bancas em setembro) foram Mister No: Revolução e Deadwood Dick, ambos com três edições cada, aparentemente, pois nem isso a Panini anuncia. Para setembro a editora anunciou no mesmo formato Chanbara: O Caminho do Samurai, de Roberto Recchioni. Vou falar agora um pouquinho sobre as séries lançadas em agosto, que valem muito a pena acompanhar:
Mister No: Revolução – Vietnã vem com a premissa de atualizar a origem do personagem Jerry Drake, o Mister No. Enquanto originalmente o personagem foi criado para ter saído dos flancos da Segunda Guerra Mundial, essa atualização de origem coloca o personagem nas florestas tropicais do Vietnã. É muito interessante essa ambientação do personagem nos anos 1960, que vai e vem na narrativa mostrando um quadro completo dos soldados entre a realidade americana e a realidade da guerra no sudoeste asiático. Lembra filmes como O Sobrevivente, de Werner Herzog e Across The Universe, de Julie Taymor ao mesmo tempo. O roteiro de Masiero é um drama que, como dito, poderia ser um belíssimo filme, casando com o traço impudico e vanguardista de Matteo Cremona, que não poderia ficar mais completo sem as tonalidades pastéis impactantes de Luca Saponti e Giovana Niro.
Michele Masiero nos conta a história de Nat Love, o Deadwood Dick, um dos Buffalo Soldiers da Guerra de Secessão americana. É uma história contada em primeira pessoa, mas também bastante diferente da maneira que os americanos contam. Masiero usa do humor e da ironia para construir a sua história de Deadwood Dick. Além disso, os maravilhosos e hiperdetalhados desenhos em chiaroscuro – apenas preto no branco – de Corrado Mastantuono, ficam em algum lugar muito especial entre os tradicionais fumetti e o que há de melhor na mais vanguardista arte realista dos quadrinhos.
Os quadrinhos italianos adultos da Bonelli rendem muito nas mãos e na imaginação do leitor trazendo um impacto narrativo e visual bem diferente daquele fornecido pelos quadrinhos adultos americanos. Isso faz com que esses fumetti tenham sexo e violência? Sim, mas eles trazem o sexo e violência não da maneira americana que costumamos acompanhar mais de perto, mas da maneira européia, como vemos nos filmes franceses, italianos, eslavos e quetais. Se os americanos se fixam muito mais na violência crua e desmedida, os europeu têm menos pudores quanto à eroticidade gráfica.
Assim temos um gostinho de novidade nos fumetti, tanto pelo Audace ser um selo novo como pela Bonelli não ser tão badalada como são Marvel e DC Comics. Acabamos nos deparando com histórias maduras e que seu usam de menos lugares-comuns e clichês do gênero. Tenho certeza de que quem ler esses fumetti não vai se arrepender. Abraços submersos em espaguete e almôndegas deliciosas!
Por: Guilherme Smee
Fonte: Splashpages