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Mano Brown, Emicida e Sabotage viram personagens de HQ que conta história do Rap nacional

Rap e histórias em quadrinhos andam juntos há muito tempo, servindo constantemente de referência um para o outro. Quando se trata do estilo musical, especificamente, vários rappers foram buscar nas HQs inspirações para seus versos e até suas personas. Há tantas ligações que os quadrinhos poderiam tranquilamente ser considerados o quinto elemento da cultura hip-hop. Portanto, nada melhor do que — mais uma vez —  uni-los para contar a história do rap nacional, como estão fazendo os amigos Douglas Lopes e Max Koubik.

A ideia de falar sobre o ritmo surgiu quando os dois precisaram fazer o temido Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). O paulista Douglas e o paranaense Max se conheceram na faculdade de Publicidade e Propaganda, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), e decidiram narrar, em quadrinhos, como o rap se formou no Brasil até chegar ao mainstream, a ampliação das pautas e a manutenção da essência crítica, conscientizadora e representativa das populações de periferia. Douglas é o responsável pelos estudos de rosto e cenários, enquanto Max faz a argumentação e escreve o roteiro.

“Tinha chegado a hora de pensar no TCC e eu só sabia que queria fazer alguma coisa sobre esporte ou sobre rap. Fui perguntar para o Doug o que ele ia fazer e ele disse que seria algo com desenho. Pronto. Nessa mesma conversa decidimos que íamos fazer uma HQ sobre rap mostrando como a cultura se manteve firme mesmo se tornando cada vez mais popular”, conta Max, em entrevista ao Reverb.

No entanto, após a decisão, eles se depararam com a dificuldade de encontrar material que tivesse uma linha temporal completa sobre o assunto, o que influenciou ainda na concepção do formato escolhido. “A gente se deu conta que não tinha livro, artigo, quadrinho ou qualquer coisa que fosse completa e focada na história do rap nacional. Foi quando a gente finalmente pensou: ‘por que nós mesmos não contamos essa história?’ Aí nasceu o projeto todo”, conclui. 

Na ausência de publicações que reúnam toda a história, eles têm usado como fontes entrevistas e documentários como o “Nos Tempos da São Bento”, disponível no YouTube, e seguindo a metodologia de Raymond Williams, com base na perspectiva do acadêmico sobre sociologia e cultura. “Basicamente procuramos o que os rappers fizeram para que pudessem produzir e distribuir suas músicas sem se submeter aos moldes do grande mercado e ainda assim fazer o sucesso que fizeram e fazem”, destaca Douglas. “Nós queremos que seja a história do rap nacional contada por quem fez e faz ele ser o que é. Queremos contar a história de uma forma que essas pessoas sejam homenageadas”, completa Max. 

Para comemorar e, de certa forma, anunciar o projeto, eles lançaram em junho, nas redes sociais, uma ilustração de abertura recriando Emicida e Mano Brown como guerreiros orientais. Segundo Douglas, a ideia inicial era só com o Emicida já que o rapper é  declarado dessa cultura. “Eu tinha acabado de ler ‘Vagabond’ (série de mangá) e tava com essa estética na cabeça. Em paralelo a isso, fiquei sabendo que estavam pensando em fazer um filme sobre o Yasuke (guerreiro africano que, segundo a história, se tornou samurai no Japão), e o Emicida tem uma música com esse nome. A ideia de colocar o Mano Brown como mestre foi do Max. Mas a HQ não será nessa ambientação. Quem sabe mais pra frente a gente não faz algo mais ficcional.”

Com a repercussão da postagem, os artistas conseguiram chegar nas produtoras dos ídolos retratados. Tanto a Laboratório Fantasma, de Emicida, quanto a Boogie Naipe, de Mano Brown, entraram em contato parabenizando pelo trabalho. Eles esperam, um dia, entregar nas mãos dos ídolos o projeto completo e permitir que a HQ alcance as periferias. “A gente quer que (a HQ) chegue em quem começou a ouvir rap agora e não teve a oportunidade de conhecer a história e também em quem ouve há mais tempo e pode relembrar desse tempo junto com as músicas da época.”

O projeto está em processo de finalização e será lançado em dezembro, na Comic Con Experience (CCXP), em São Paulo, na Artist Alley. Serão três volumes, cada um sobre uma geração do rap. Até a entrevista ao Reverb, o único volume totalmente fechado é o primeiro, que vai de 1988 até o começo dos anos 2000. O segundo deve registrar o período entre as batalhas da Santa Cruz, uma das mais respeitadas batalhas de MCs do Brasil,  e “Nó na Orelha” (2011), do Criolo; enquanto o terceiro deve abordar o período a partir de “Nó na Orelha” até “Bluesman” (2018), de Baco Exu do Blues.

 

Por: Kelly Ribeiro
Fonte: Reverb

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