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Apagão, da Editora Draco, ilumina e reflete a mudança da sociedade atual

Nos anos de 2014 e 2015, o roteirista Raphael Fernandes imaginou como seria o mundo se caíssemos em um caos total sem luz. Como a sociedade suportaria tendo que abrir mãos de todas as “maravilhas” tecnológicas, que faz mais parte das nossas vidas, e ao mesmo tempo ter as autoridades não se pronunciando sobre a situação. E ao mesmo tempo diversas vozes e grupos surgindo para demostrarem seus ideais e exemplos de como a lei deve ser.

Ou como eles acham que a lei deve ser.

As edições Apagão – Ligação Direta e Cidade Sem Lei/Luz apresenta no melhor estilo dos quadrinhos de The Walking Dead, onde o ser humano pode chegar e como ele pode se organizar em um lugar sem regras. Ou melhor, em um lugar onde cada um faz a sua própria lei, ideologia, regra e as apresentam como superior em cima das outras. Muitas vezes (ou na maioria delas) essas leis ou ideologias são empurradas goela a força dos mais fracos. Como pequenas ditaduras que se formam por territórios, à la Mad Max, buscando a sobrevivência do mais forte ou simplesmente colocarem para fora o pior de si.

O clima da São Paulo sem luz é aterrorizante e te faz pensar como você sobreviveria naquela situação distópica. A arte de Camaleão é gigante e os personagens, principalmente os Macacos Urbanos, que parecem que vão saltar da página em cada lance de capoeira. A mesma emoção e sentimento temos nas cenas de perseguições, ou nas pancadarias em auto velocidade das Irmãs Canivete. E do mesmo jeito em que os personagens parecem saltar, a arte te leva para vivenciar as ruas escuras e sujas da cidade. O constante pensamento de que não saber o que encontrar virando cada beco escuro ou página faz o leitor aprofundar mais na história.

Eu não li Apagão quando foi lançado. Somente agora consegui ler as HQs e considerando os fatos das gangues, as ideologias de algumas como Guardiões da Moral e dos Filhos de Deus, podemos afirmar que essas gangues já estão por aqui proliferando as suas ideologias. Racistas, nazistas, religiosas ditatoriais e até mesmo narcisistas. O que Raphael Fernandes escreveu lá em 2015 foi uma previsão do que surgiu nos esgotos de alguns fóruns de internet e de pessoas que se reuniam secretamente. E que por meio de personalidades e políticos A e B tiveram a coragem de começar a sair dos seus armários.

De lá para cá, o universo de Apagão cresceu, ganhou audiobook interativo Apagão – Entre o lobo e o cão. Narrado por Guilherme Briggs, o áudio-jogo se passa durante uma série de protestos políticos contra e a favor do presidente do Brasil. E vemos a jovem Heloísa no meio da calamidade, sendo obrigada a duas escolhas: salvar sua namorada que está presa em no elevador de um hospital próximo, ou voltar para o Capão Redondo e levar a insulina para a sua avó debilitada. O jogo foi produzido pela Rede Geek e você pode conferir AQUI.

E agora mais uma edição intitulada Apagão – Fruto Proibido, com desenhos do Abel e cores da Fabi Marques, e um belo card game Apagão – Ruas de Fúria criado por Gustavo Barreto e que será publicado pela FunBox Editora. O jogo foi ilustrado por Abel e Tiago Palma, além da arte da capa ser do Camaleão. Você pode conferir e apoiar a campanha no Catarse clicando AQUI.

Se algum dia a luz será ligada no universo de Apagão, somente o Raphael Fernandes pode falar. Mas acredito que ainda temos muito o que andar, correr, saltar e discutir sobre as ideologias das gangues e de como assustadoramente elas se aproximam da nossa realidade.

 

 

Por: Ricardo Ramos
Fonte: Torre de Vigilância

 

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